Estudo anterior já apontou que ostras da Grande Florianópolis possuiam esses materiais que não são biodegradáveis, ou seja não se decompõe naturalmente

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está participando do maior projeto já realizado no Brasil sobre a poluição por microplásticos nas praias brasileiras. O Laboratório de Biomarcadores de Contaminação Aquática e Imunoquímica (LABCAI), liderado pelo professor Afonso Celso Dias Bainy, é uma das referências no estudo sobre contaminantes no mar e irá analisar amostras coletadas em nove pontos, nas cidades de Florianópolis, Balneário Camboriú, Laguna, Penha, Garopaba e Palhoça. O projeto envolve colaboração com instituições do país e do mundo e tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e se alinha ao Programa Ciência no Mar e ao Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar.
Os microplásticos são partículas de tamanho entre 1µm (a milésima parte de um milímetro) e 5 mm e passam facilmente pelos sistemas de filtragem de água porque as estações de tratamento de esgoto não possuem eficiência de remoção total. Por isso, chegam aos rios, lagos e oceanos, representando uma ameaça potencial à vida aquática e afetando também a vida humana.
A parceria com a UFSC surgiu, segundo o professor Afonso Bainy, por conta do histórico do trabalho do laboratório em investigar os mecanismos moleculares e bioquímicos da interação entre contaminantes emergentes e as respostas dos organismos aquáticos. Um dos estudos que deu início a essa parceria foi desenvolvido a partir de uma tese com moluscos bivalves, mais precisamente das ostras, organismos filtradores que, acabam capturando esses contaminantes com mais facilidade.
O pesquisador Miguel Angel Saldaña Serrano estudou, nessa tese, a ocorrência de contaminantes emergentes em áreas de cultivo de ostras em Florianópolis e identificou, entre esses novos contaminantes, os microplásticos. Ele explica que existem duas classes investigadas: os primários, derivados da produção de plásticos fabricados em microescala e usados em produtos de limpeza facial, esfoliantes corporais e cosméticos; e os secundários, que são aqueles que se fragmentam a partir de itens maiores degradados, principalmente, pela radiação solar.
Estudo anterior identificou microplásticos em ostras da região
Essas micro e, por vezes, nanopartículas podem chegar a diferentes ambientes aquáticos, como rios, lagoas e mar. A falta de saneamento básico adequado seria uma das principais causas. “O saneamento básico, em várias cidades do litoral, no mundo todo, é um problema. Por isso, quando temos, por exemplo, uma área de produção de ostra próxima à saída de esgoto clandestino, não é só microplástico que terá ali, é todo tipo de contaminante”, explica o professor Bainy.
O estudo de Miguel teve como foco as ostras da espécie Crassostrea gigas cultivadas na área metropolitana de Florianópolis, em seis locais diferentes. A concentração dos microplásticos nos moluscos foi considerada baixa, com as regiões de Serraria e Imaruim sendo as mais contaminadas por esgoto sanitário. Apesar disso, havia microplástico em todas as amostras coletadas.
Um dos indicativos foi a presença das chamadas microfibras têxteis dentre elas a “fibra azul”, que são microplásticos característicos, por exemplo, de peças do vestuário que são lavadas e cujos resíduos chegam aos mares. “Ainda há, na ciência, diferentes ideias sobre o impacto dessas microfibras na saúde humana. Mas a gente sabe que, por exemplo, para as ostras que a gente trabalha aqui, gera algum impacto porque elas agem como se fosse um alimento, uma microalga. Só que não é um alimento, então elas diminuem seu crescimento, não conseguem ganhar peso, o que para um produtor é muito importante”, explica Miguel.
Por conta desses resultados, a pesquisa sugere que os sistemas de tratamentos de esgoto nas estações devem ser melhorados, com sistemas de depuração implementados para diminuir a carga destes contaminantes nas ostras de cultivo.
Por: TV Portal Grande Floripa com informações da UFSC
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