O grande apelo do Pix Parcelado, que entra em vigor a partir de segunda-feira (1/9), é a redução de custo para o varejista, que paga caro através do cartão de crédito.

Basicamente, o Pix Parcelado tem um modelo muito similar ao cartão de crédito. O banco, onde o cliente possui conta, vai lhe oferecer um limite para que ele possa fazer compras de forma parcelada, mesmo que não tenha saldo em conta, sem que haja a necessidade de um cartão. Por exemplo, se uma pessoa utilizar o Pix Parcelado para comprar uma TV de R$ 3 mil em dez parcelas, o lojista vai gerar um QR Code para pagamento, sendo que esse valor vai ser debitado do seu limite pré-aprovado pelo banco. Nesse tipo de operação, o lojista vai receber o valor à vista, descontada uma taxa cobrada pelo banco, pelo adquirente ou pela plataforma de pagamento que ele utiliza, e o cliente vai pagar as parcelas com juros.
Um detalhe importante é que na hora em que o cliente está fazendo o pagamento, ele pode escolher a melhor data para que o débito da operação seja feito na sua conta. Por exemplo, se a pessoa recebe no quinto dia útil, ele pode pedir para que as parcelas sejam debitadas no quinto dia útil. Ou seja, mesmo que o lojista já tenha recebido à vista, a parcela vai ser debitada da conta do cliente quando ele escolher. Para isso, o banco vai oferecer várias opções de data. Com isso, o cliente pode deixar todas as cobranças concentradas em uma única data ou optar por ter mais de uma data de cobrança no decorrer do mês.
O Pix Parcelado é apenas mais uma modalidade de pagamento ou realmente possui potencial para impactar as compras parceladas?
duas coisas. Isso porque a aprovação do limite de um cartão de crédito envolve uma análise com mais de um participante, como a bandeira do cartão. No caso do Pix Parcelado, como o banco é responsável por toda a análise, e o cliente já possui relacionamento com o banco, é bem provável que ele consiga um limite de crédito, por mais que seja apenas R$ 50. Cabe mencionar que, nos últimos anos, nós tivemos o exemplo de um banco que começou oferecendo cartões de crédito com limites de R$ 50 e que hoje possui a maior base de clientes do país
Quando o banco possui um relacionamento de mais tempo com o cliente, ele tem condições de liberar o limite necessário, o que gera, automaticamente, um potencial a mais para que os clientes possam consumir produtos e serviços fora do cartão de crédito, o que é muito bom para o varejo. Além disso, o Pix Parcelado é mais barato, pois como ele elimina a bandeira do cartão, o custo da operação é reduzido, já que os bancos não terão mais que pagar a taxa de interchange para as bandeiras.
Qual o grande apelo do Pix Parcelado?
O grande apelo do Pix Parcelado é a redução de custo para o varejista, que paga caro para vender parcelado através de cartão de crédito, sendo que quando ele faz a antecipação das parcelas, essa operação fica ainda mais cara. Voltando ao exemplo da TV de R$ 3 mil, quando o lojista fizer a venda através do Pix Parcelado, ele pode receber, por exemplo, R$ 2.900 à vista do banco. Se essa operação fosse feita com um cartão de crédito, o custo seria muito mais alto, pois haveria a cobrança do banco, da bandeira e do adquirente, mas no Pix Parcelado, esse custo tende a diminuir pela metade. Com isso, o número de clientes que vão conseguir comprar de forma parcelada, e até mais barato, será maior.
A imprensa tem noticiado que o Pix Parcelado atenderá, principalmente, as pessoas que não possuem cartão de crédito, mas por que uma pessoa que não tem acesso a um cartão de crédito vai ter acesso a uma linha de crédito para um Pix Parcelado?
Se o cliente já tem relacionamento com um banco, que entende a sua movimentação financeira, ele tem um potencial maior para conseguir um limite no Pix Parcelado, mesmo que esse limite não seja tão grande. Nesse sentido, os bancos digitais, que já possuem clientes das classes D e E nas suas bases, vão começar a olhar para esse perfil de cliente de uma forma diferente, tentando entender se eles conseguem suportar uma parcela que possa ser debitada de forma automática das suas contas bancárias.
O Pix Parcelado não pode agravar o endividamento de muitas pessoas? Isso porque ele poderá ser oferecido por bancos, pelas próprias empresas que farão as vendas e que podem fazer operações financeiras e por fintechs.
Além de todo crédito ser muito analisado antes de ser liberado, o endividamento do brasileiro já está em um nível estabilizado. Ainda não existe um número oficial para a inadimplência das classes D e E, que são os novos entrantes da área de crédito, mas quando pegamos a inadimplência dos bancos para cartão de crédito, de 6% a 8% dos clientes atrasam suas faturas. É por isso que eu acredito que a inadimplência do Pix Parcelado possa ficar nesse nível.
Independente disso, os bancos possuem contramedidas para lidar com essa situação, como a utilização dos recursos que entrarem na conta para a quitação automática das parcelas em aberto e alertas, emitidos pelos seus aplicativos, que avisam os clientes sobre a data de pagamento das parcelas.
Aproveitando a nossa entrevista, como você tem visto a evolução da adoção do Pix Automático?
Nesse caso, nós temos uma revolução, pois com o Pix Automático será possível substituir os pagamentos por débito automático ou por cartão recorrente. Com ele, a tendência é que pagamentos como condomínio, academia, conta de luz ou streaming, migrem para esse produto. Para o recebedor também será mais prático, pois se o pagamento estiver em Pix Automático, a chance de haver saldo na conta na data do pagamento é maior, o que faz com que a inadimplência tenda a cair. Outro ponto é que a tarifa do Pix Automático é menor que a tarifa de um cartão recorrente, um dos seus concorrentes.
Com relação à sua adoção, nesse momento ela está lenta, pois a tecnologia ainda não está funcionando muito bem. Ela possui alguns pontos técnicos que ainda não estão em um modelo ideal, como a visibilidade no momento do pagamento e a usabilidade em um formato fluído. Como estamos acompanhando alguns ambientes de teste, estamos vendo que ainda vai demorar alguns meses até que o Pix Automático fique 100%, mas eu acredito que o mercado vai avançar fortemente para este produto quando ele estiver no ponto ideal.
Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?
É importante destacar que o Pix Parcelado não vai tomar o espaço do cartão de crédito. Ele vai ser um complemento, uma ferramenta a mais para que o público possa escolher como vai fazer os seus pagamentos, e aumentar a concorrência no sentido de tarifas. O Pix Parcelado não vai fazer com que o cartão de crédito seja abandonado. Algumas compras vão continuar no cartão, mas outras vão migrar para o Pix Parcelado.
Por mais que os Estados Unidos estejam questionando o Brasil sobre o Pix, eu não acredito que ele interfira nos negócios das grandes bandeiras americanas ou de qualquer outro país. O Pix veio para agregar, para complementar, mas não para concorrer diretamente, até porque ele substituiu, fortemente, o dinheiro em espécie, o que era a sua intenção principal. Por exemplo, em 2019, 43% das transações no Brasil eram feitas em dinheiro em espécie, sendo que hoje são apenas 6%. Isso no espaço de 5 anos.
Como disse, o objetivo do Pix não é concorrer com nenhuma outra modalidade de pagamento, mas oferecer novas ferramentas de pagamento para o público em geral.
Por: TV Portal Grande Floripa
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